segunda-feira, 25 de dezembro de 2023

Natal: Deus veio ao nosso encontro por amor

Natal: Deus veio ao nosso encontro por amor

Celebrando Natal do Senhor, vejamos o que nos diz o poeta Charles Péguy, em “Le mystère des Saints Innocentes”:

“Fala-se sempre, diz o Senhor da ‘imitação de Jesus Cristo’ que é a imitação, a fiel imitação do meu Filho por parte dos homens...

Mas não se deveria esquecer que meu Filho tinha começado com aquela imitação singular do homem.

Particularmente fiel. Aquela foi levada até a perfeita identidade. Quando tão fielmente, tão perfeitamente assumiu a sorte dos mortais. Quando tão fielmente, tão perfeitamente ele imitou o nascer. E o sofrer. E o viver, e o morrer” (1)

Não estranhamos quando ouvimos que devemos imitar Jesus Cristo; o que não está errado. Porém, antes, o poeta acena para algo a ser contemplado em silêncio orante, diante de um possível presépio, onde vemos representado, entre riquezas de símbolos, a imagem de uma frágil Criança.

Verdadeiramente, Ele veio ao nosso encontro na forma de uma Criança e se submeteu a toda fragilidade.

Meditando os Mistérios da Salvação, que nos veio pela Encarnação do Verbo, Jesus Cristo, vejamos o que nos diz este trecho do Sermão do Abade São Bernardo (séc. XII):

“O Santo, que nascer de ti, será chamado Filho de Deus (cf. Lc 1,35), fonte de sabedoria, o Verbo do Pai nas alturas! Este Verbo, através de ti, Virgem santa, Se fará Carne, de modo que Aquele que diz: Eu no Pai e o Pai em mim (Jo 10,38), dirá também: Eu saí do Pai e vim (Jo 16,28).

No princípio, diz João, era o Verbo. Já borbulha a fonte, mas por enquanto apenas em si mesma. Depois, e o Verbo era com Deus (Jo 1,1), habitando na luz inacessível.

O Senhor dizia anteriormente: Eu tenho pensamentos de paz e não de aflição (cf. Jr 29,11). Mas teu pensamento está dentro de ti, ó Deus, e não sabemos o que pensas; pois quem conheceu a mente do Senhor ou quem foi seu conselheiro? (cf. Rm 11,34).
  
Desceu, por isto, o pensamento da paz para a obra da paz: O Verbo Se fez Carne e já habita em nós (Jo 1,14). Habita totalmente pela fé em nossos corações, habita em nossa memória, habita no pensamento e chega a descer até a imaginação.

Que poderia antes o homem pensar sobre Deus, a não ser talvez fabricando um ídolo no coração? Era incompreensível e inacessível, invisível e inteiramente impensável; agora, porém, quis ser compreendido, quis ser visto, quis ser pensado.

De que modo, perguntas? Por certo, reclinado no presépio, deitado ao colo da Virgem, pregando no monte, pernoitando em Oração; ou pendente da Cruz, pálido na morte, livre entre os mortos e dominando o inferno; ou ainda ressurgindo ao terceiro dia, mostrando aos Apóstolos as marcas dos cravos, sinais da vitória, e, por último, diante deles subindo ao mais alto do céu.

O que não se poderá pensar verdadeira, piedosa e santamente disto tudo? Se penso algo destas realidades, penso em Deus e em tudo Ele é o meu Deus. Meditar assim, considero sabedoria, e tenho por prudência renovar a lembrança da suavidade que, em essência tão preciosa, a descendência sacerdotal produziu copiosamente, e que, haurindo do alto, Maria trouxe para nós em profusão.”

Deste modo, Aquele que “era incompreensível e inacessível, invisível e inteiramente impensável; agora, porém, quis ser compreendido, quis ser visto, quis ser pensado”; e veio ao nosso encontro.

Jesus veio nos imitar, como disse o poeta. Agora, ao celebrar o Seu Nascimento, imitemo-Lo!

“... reclinado no presépio, deitado ao colo da Virgem, pregando no monte, pernoitando em oração; ou pendente da Cruz, pálido na morte, livre entre os mortos e dominando o inferno; ou ainda ressurgindo ao terceiro dia, mostrando aos Apóstolos as marcas dos cravos, sinais da vitória, e, por último, diante deles subindo ao mais alto do céu”.

Imitemos Aquele que, antes, nos imitou, assumindo nossa condição, verdadeiramente homem, verdadeiramente Deus. Fez-se um de nós, experimentou tudo o que possamos experimentar, exceto o pecado, para dele nos libertar, em imerecida redenção.

Imitemos Aquele que, antes, nos imitou... Afinal, Deus, por meio de Jesus veio ao nosso encontro, e para sempre ficou com o Seu Espírito. Amém.



(1) Citado por Raniero Cantalamessa, em o Verbo Se faz Carne – Editora Ave Maria – 2013 - p.242.


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