Discurso
do Santo Padre à Cúria Romana
na
apresentação de votos natalícios
“E
o Verbo fez-Se homem e veio habitar conosco”
(Jo 1, 14)
Alguns apontamentos, a partir do Discurso do Santo Padre ao apresentar votos
natalícios à Cúria Romana, em dezembro de 2019, tendo como inspiração o
versículo bíblico acima.
Depois
de reconhecimento e algumas saudações, inicia a mensagem falando da
oportunidade do encontro para o momento de comunhão e reforço da fraternidade
enraizado no amor de Deus que Se revela no Natal.
Citando
Matta el Meskin, fala-nos do nascimento de Cristo, como um testemunho
mais forte e eloquente de quanto Deus amou o homem, com um amor pessoal; e por
isto tomou um corpo humano, ao qual Se uniu e assumiu para sempre. Este nascimento
é, em si mesmo, uma “aliança de amor”’, estipulada para sempre entre Deus e o
homem.
Completa
com a citação de Clemente de Alexandria – “Para isto Ele (Cristo) desceu; para isto Se
revestiu de humanidade; para isto sofreu voluntariamente o que padecem os homens,
para que, depois de Se ter confrontado com a nossa fraqueza que amou, pudesse
em troca confrontar-nos com a sua força”.
Segundo
o Papa, por causa deste amor, a troca das “Boas-Festas” natalícias é igualmente
ocasião para acolhermos de modo novo o seu mandamento: «Que vos ameis uns
aos outros assim como Eu vos amei. Por isto é que todos conhecerão que sois
meus discípulos: se vos amardes uns aos outros» (Jo 13, 34-35)
Lembra
o Papa que Jesus não nos pede para O
amarmos em resposta ao Seu amor por nós; mas, sim, para nos amarmos uns aos
outros com o Seu próprio amor, como tão bem expressou o Santo Cardeal Newman:
–
Oxalá o Natal “nos encontre cada vez mais semelhantes Àquele que, neste tempo, Se
tornou menino por nosso amor; que em cada novo Natal nos encontre mais simples,
mais humildes, mais santos, mais caridosos, mais resignados, mais alegres, mais
repletos de Deus... Este é o tempo da inocência, da pureza, da mansidão, da
alegria, da paz”
Para
isto, é preciso mudanças, buscando a perfeição como resultado de muitas
transformações, e não se trata procurar a mudança por si mesma nem de seguir as
modas, mas de ter a convicção de que o desenvolvimento e o crescimento são características
da vida terrena e humana, enquanto no centro de tudo, segundo a perspectiva do
crente, está a estabilidade de Deus; e a mudança implica em conversão, em
transformação interior, como afirmava Newman.
Sobretudo
quando vivemos um contexto de mudança de época, e não apenas época de mudanças:
– “Muitas vezes acontece viver a mudança limitando-se a envergar um vestido
novo e, depois, permanecer como se era antes. Lembro-me da expressão enigmática
que se lê num famoso romance italiano: «Se queremos que tudo fique como está, é
preciso que tudo mude» (Il Gattopardo, de Giuseppe Tomasi de Lampedusa)”.
Retoma
a questão sobre a implementação da reforma da Cúria Romana, reiterando que esta
reforma nunca teve a presunção de proceder como se nada tivesse existido antes;
pelo contrário, procurou-se valorizar quanto de bom se fez na complexa história
da Cúria, consciente de que a tradição não é estática, mas dinâmica, como dizia
G. Mahler: a tradição é a garantia do futuro e não a custódia das cinzas.
Em
encontros anteriores no Natal, o Papa lembra que falou de critérios que
inspiraram o trabalho da reforma; algumas novidades da organização da Cúria,
como, por exemplo, a Terceira Secção da Secretaria de Estado; as relações entre
a Cúria Romana e as Igrejas particulares, lembrando também a prática antiga das
Visitas ad limina Apostolorum; ou a estrutura de alguns Dicastérios,
nomeadamente o das Igrejas Orientais e os Dicastérios para o diálogo ecumênico
e inter-religioso e, de modo especial, com o Judaísmo.
Neste
encontro, o Papa se detém sobre outros Dicastérios vistos a partir do coração
da reforma, ou seja, da primeira e mais importante tarefa da Igreja: a
evangelização.
Em
diversos parágrafos, se detém e aprofunda a necessária reforma de alguns Dicastérios
da Cúria Romana: a Congregação para
a Doutrina da Fé, a Congregação para a Evangelização dos Povos; mas penso
também no Dicastério para a Comunicação e no Dicastério para o Serviço do
Desenvolvimento Humano Integral.
Para
estas mudanças, segundo o Papa, não tem fórmulas mágicas nem atalhos; não se
pode cair da tentação de retirar-se para o passado como segurança; tão pouco a
atitude rigidez frente às necessárias mudanças: – “Aqui é necessário
advertir contra a tentação de assumir a atitude da rigidez. Esta nasce do medo
da mudança e acaba por disseminar estacas e obstáculos pelo terreno do bem
comum, tornando-o um campo minado de incomunicabilidade e ódio. Lembremo-nos
sempre de que, por trás de qualquer rigidez, jaz um desequilíbrio. A rigidez e
o desequilíbrio nutrem-se, mutuamente, num círculo vicioso. E hoje esta
tentação da rigidez tornou-se tão atual”.
Em
seguida, lembra o fato de que a Cúria Romana não é um corpo separado da
realidade – embora o risco esteja sempre presente –, mas deve ser concebida e
vivida no hoje do caminho percorrido pelos homens e as mulheres, na lógica da mudança
de época.
Ela
não é um palácio ou um armário cheio de roupas, que se hão de vestir para
justificar uma mudança, pois se trata de um corpo vivo, e será tanto mais quanto
mais viver a integralidade do Evangelho.
Lembra
as interpeladoras palavras do Cardeal Martini, em sua última entrevista dada
poucos dias antes da sua morte: – “A
Igreja ficou atrasada duzentos anos. Como é possível que não se alvorace? Temos
medo? Medo, em vez de coragem? No entanto, a fé é o fundamento da Igreja. A fé,
a confiança, a coragem. (...) Só o amor vence o cansaço”.
Entregando dois livros de presente aos participantes, finaliza
com votos de Feliz Natal, reiterando que o Natal é a festa do amor de Deus por
nós; e é um amor que inspira, dirige e corrige a mudança e vence o medo humano
de deixar o “seguro” para se lançar no “mistério”.
Se desejar, leia na integra: https://www.vaticannews.va/pt/papa/news/2019-12/papa-francisco-discurso-natal-curia-romana.html
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