sexta-feira, 8 de dezembro de 2023

Discurso do Santo Padre à Cúria Romana na apresentação de votos natalícios


Discurso do Santo Padre à Cúria Romana
na apresentação de votos natalícios

“E o Verbo fez-Se homem e veio habitar conosco
(Jo 1, 14)

Alguns apontamentos, a partir do Discurso do Santo Padre ao apresentar votos natalícios à Cúria Romana, em dezembro de 2019, tendo como inspiração o versículo bíblico acima.

Depois de reconhecimento e algumas saudações, inicia a mensagem falando da oportunidade do encontro para o momento de comunhão e reforço da fraternidade enraizado no amor de Deus que Se revela no Natal.

Citando Matta el Meskin, fala-nos do nascimento de Cristo, como um testemunho mais forte e eloquente de quanto Deus amou o homem, com um amor pessoal; e por isto tomou um corpo humano, ao qual Se uniu e assumiu para sempre. Este nascimento é, em si mesmo, uma “aliança de amor”’, estipulada para sempre entre Deus e o homem.

Completa com a citação de Clemente de Alexandria – Para isto Ele (Cristo) desceu; para isto Se revestiu de humanidade; para isto sofreu voluntariamente o que padecem os homens, para que, depois de Se ter confrontado com a nossa fraqueza que amou, pudesse em troca confrontar-nos com a sua força”.

Segundo o Papa, por causa deste amor, a troca das “Boas-Festas” natalícias é igualmente ocasião para acolhermos de modo novo o seu mandamento: «Que vos ameis uns aos outros assim como Eu vos amei. Por isto é que todos conhecerão que sois meus discípulos: se vos amardes uns aos outros» (Jo 13, 34-35)

Lembra o Papa que  Jesus não nos pede para O amarmos em resposta ao Seu amor por nós; mas, sim, para nos amarmos uns aos outros com o Seu próprio amor, como tão bem expressou o Santo Cardeal Newman:

– Oxalá o Natal nos encontre cada vez mais semelhantes Àquele que, neste tempo, Se tornou menino por nosso amor; que em cada novo Natal nos encontre mais simples, mais humildes, mais santos, mais caridosos, mais resignados, mais alegres, mais repletos de Deus... Este é o tempo da inocência, da pureza, da mansidão, da alegria, da paz”

Para isto, é preciso mudanças, buscando a perfeição como resultado de muitas transformações, e não se trata procurar a mudança por si mesma nem de seguir as modas, mas de ter a convicção de que o desenvolvimento e o crescimento são características da vida terrena e humana, enquanto no centro de tudo, segundo a perspectiva do crente, está a estabilidade de Deus; e a mudança implica em conversão, em transformação interior, como afirmava Newman.

Sobretudo quando vivemos um contexto de mudança de época, e não apenas época de mudanças: – “Muitas vezes acontece viver a mudança limitando-se a envergar um vestido novo e, depois, permanecer como se era antes. Lembro-me da expressão enigmática que se lê num famoso romance italiano: «Se queremos que tudo fique como está, é preciso que tudo mude» (Il Gattopardo, de Giuseppe Tomasi de Lampedusa)”.

Retoma a questão sobre a implementação da reforma da Cúria Romana, reiterando que esta reforma nunca teve a presunção de proceder como se nada tivesse existido antes; pelo contrário, procurou-se valorizar quanto de bom se fez na complexa história da Cúria, consciente de que a tradição não é estática, mas dinâmica, como dizia G. Mahler: a tradição é a garantia do futuro e não a custódia das cinzas.

Em encontros anteriores no Natal, o Papa lembra que falou de critérios que inspiraram o trabalho da reforma; algumas novidades da organização da Cúria, como, por exemplo, a Terceira Secção da Secretaria de Estado; as relações entre a Cúria Romana e as Igrejas particulares, lembrando também a prática antiga das Visitas ad limina Apostolorum; ou a estrutura de alguns Dicastérios, nomeadamente o das Igrejas Orientais e os Dicastérios para o diálogo ecumênico e inter-religioso e, de modo especial, com o Judaísmo.

Neste encontro, o Papa se detém sobre outros Dicastérios vistos a partir do coração da reforma, ou seja, da primeira e mais importante tarefa da Igreja: a evangelização.

Em diversos parágrafos, se detém e aprofunda a necessária reforma de alguns Dicastérios da Cúria Romana: a Congregação para a Doutrina da Fé, a Congregação para a Evangelização dos Povos; mas penso também no Dicastério para a Comunicação e no Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral.

Para estas mudanças, segundo o Papa, não tem fórmulas mágicas nem atalhos; não se pode cair da tentação de retirar-se para o passado como segurança; tão pouco a atitude rigidez frente às necessárias mudanças: – “Aqui é necessário advertir contra a tentação de assumir a atitude da rigidez. Esta nasce do medo da mudança e acaba por disseminar estacas e obstáculos pelo terreno do bem comum, tornando-o um campo minado de incomunicabilidade e ódio. Lembremo-nos sempre de que, por trás de qualquer rigidez, jaz um desequilíbrio. A rigidez e o desequilíbrio nutrem-se, mutuamente, num círculo vicioso. E hoje esta tentação da rigidez tornou-se tão atual”.

Em seguida, lembra o fato de que a Cúria Romana não é um corpo separado da realidade – embora o risco esteja sempre presente –, mas deve ser concebida e vivida no hoje do caminho percorrido pelos homens e as mulheres, na lógica da mudança de época.

Ela não é um palácio ou um armário cheio de roupas, que se hão de vestir para justificar uma mudança, pois se trata de um corpo vivo, e será tanto mais quanto mais viver a integralidade do Evangelho.

Lembra as interpeladoras palavras do Cardeal Martini, em sua última entrevista dada poucos dias antes da sua morte: – “A Igreja ficou atrasada duzentos anos. Como é possível que não se alvorace? Temos medo? Medo, em vez de coragem? No entanto, a fé é o fundamento da Igreja. A fé, a confiança, a coragem. (...) Só o amor vence o cansaço”.

Entregando dois livros de presente aos participantes, finaliza com votos de Feliz Natal, reiterando que o Natal é a festa do amor de Deus por nós; e é um amor que inspira, dirige e corrige a mudança e vence o medo humano de deixar o “seguro” para se lançar no “mistério”.



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