No dia de Natal ouvimos a proclamação do Prólogo do Evangelho de São João, e na Liturgia das Horas, encontramos um pequeno trecho “Do Tratado do Presbítero Santo Hipólito contra a heresia de Noeto” (Séc. III), em que nos fala sobre a manifestação do Mistério escondido, Jesus, por meio do qual tudo foi criado.
“Único é o Deus que conhecemos, irmãos, e não por outra fonte que não seja a Sagrada Escritura. Devemos, pois, saber o que ela anuncia e compreender o que ensina. Creiamos no Pai como Ele quer ser acreditado; glorifiquemos o Filho como Ele quer ser glorificado; e recebamos o Espírito Santo como Ele quer se dar a nós.
Consideremos tudo isso, não segundo nosso próprio arbítrio e interpretação pessoal, nem fazendo violência aos dons de Deus, mas como Ele próprio nos ensinou pelas Santas Escrituras.
Quando só existia Deus, e não havia ainda nada que existisse com Ele, decidiu criar o mundo. Criou-o por Seu pensamento, Sua vontade e Sua Palavra; e o mundo começou a existir como Ele quis e realizou.
Basta-nos apenas saber que nada coexistia com Deus. Não havia nada além d’Ele, só Ele existia e era perfeito em tudo. n’Ele estava a inteligência, a sabedoria, o poder e o conselho.
Tudo estava n’Ele e Ele era tudo. E quando quis e como quis, no tempo que havia estabelecido, manifestou o Seu Verbo, por quem fez todas as coisas.
Deus possuía o Verbo em Si mesmo, e o Verbo era imperceptível para o mundo criado; mas fazendo ouvir Sua voz, Deus tornou-O perceptível. Gerando-O como luz da luz, enviou como Senhor da criação Aquele que é Sua própria inteligência.
E este Verbo, que no princípio era visível apenas para Deus e invisível para o mundo, tornou-Se visível para que o mundo, vendo-O manifestar-Se, pudesse ser salvo.
O Verbo é verdadeiramente a inteligência de Deus que, ao entrar no mundo, Se manifestou como o servo de Deus. Tudo foi feito por Ele, mas Ele procede unicamente do Pai.
Foi Ele quem deu a Lei e os Profetas; e ao fazê-lo, impulsionou os Profetas a falarem sob a moção do Espírito Santo para que, recebendo a força da inspiração do Pai, anunciassem o Seu desígnio e a Sua vontade.
O Verbo, portanto, se tornou visível, como diz São João. Este repete em síntese o que os Profetas haviam dito, demonstrando que Aquele era o Verbo por quem tinham sido criadas todas as coisas:
No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus; e o Verbo era Deus. Tudo foi feito por Ele e sem Ele nada se fez (Jo 1,1.3). E, mais adiante, prossegue: O mundo foi feito por meio d’Ele, mas o mundo não quis conhecê-Lo. Veio para o que era Seu, os Seus, porém, não O acolheram (Jo 1,10-11).”
A Festa do Natal é a celebração do nascimento d’Aquele por meio do qual Deus tudo criou, que já existia com Deus em comunhão com o Espírito Santo.
O invisível Se fez visível. O intangível nos permitiu que O tocássemos. É sempre Natal, quando percebemos a presença do Senhor em nosso meio, como “Emanuel”, o “Deus conosco”, nosso Salvador que, por amor, lenhos distintos assumiu: da Manjedoura, da Barca e da Cruz.
Ofereceu-nos a Cruz como condição para segui-Lo com necessárias renúncias. É nesta mesma Cruz que o Sangue, por amor, derramou, e com Deus nos reconciliou e, ao mundo, a mais bela lição de humildade, amor, e doação deixou.
Celebrando o Natal do Senhor, não separemos o Menino da Manjedoura do Homem Jesus de Nazaré que morre na Cruz, o nosso Redentor, o Salvador de toda humanidade.
O Senhor amou Sua tenda entre nós, e que em nosso coração encontre morada, como o mais belo Hóspede de nossa alma, então a Luz do Natal resplandecerá mais forte e iluminará todo o mundo.
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